Lídia Marôpo
10 de Outubro, 2024
A Internet pode ser vista como uma janela aberta para inúmeras oportunidades para crianças e jovens: entretenimento, socialização, autoexpressão, informação, aprendizagem, participação cívica, contacto com diferentes culturas, construção de comunidades de interesse ou apoio… Mas as atividades online também expõem os mais novos a riscos que evoluem consoante as rápidas transformações das tecnologias digitais e que são de diferentes tipos.
Os 4Cs dos riscos digitais
– Conteúdo potencialmente prejudicial (discurso de ódio, pornografia, desinformação, entre outros);
– Contacto potencialmente prejudicial por parte de adultos (assédio sexual, extorsão, manipulação etc.);
– Conduta potencialmente prejudicial por parte de pessoas da mesma idade (bullying, pressão entre pares, mensagens sexuais não consensuais);
– Contrato comercial potencialmente prejudicial (roubo de identidade, fraude, phishing etc.).
Estas ameaças têm provocado preocupações sociais sobre as possíveis consequências negativas dos usos e práticas digitais de crianças e jovens. Mas o que realmente sabemos sobre o fenómeno para além das reações emocionais e polarizadas que muitas vezes dominam o debate público e mediático?
10 pontos para pensar riscos
Com base em estudos como o EU Kids Online, ySkills, e nas orientações do programa europeu Better Internet for Kids, além de estudos da UNICEF, elencamos 10 aspetos que ajudam a pensar os riscos digitais a que os mais novos estão expostos.
1. Diferenciar riscos (enquanto probabilidade de um dano ocorrer sob circunstâncias definidas) e danos (resultado ou impacto adverso).
- Por esta razão, usámos a expressão ‘potencialmente prejudicial’ quando classificámos cada um dos quatro tipos de risco. Nem todo o risco se transforma necessariamente em dano.
2. As atividades online não devem ser definidas de modo rígido como positivas ou negativas: podem ser benéficas para uns e danosas para outros.
- No inquérito EU Kids Online 2020, os riscos mais reportados pelos jovens – sexting e conhecer novas pessoas na Internet – não tinham resultado em dano para a maioria. A troca de mensagens sexuais (sexting), por exemplo, pode ser um risco, mas representa também uma oportunidade para jovens que, de modo consensual, estão a exercer a sua sexualidade.
3. A exposição a um risco online pode transformar-se em dano.
- Um possível impacto negativo sobre o bem-estar emocional, físico ou mental, depende de diversos fatores relacionados com as crianças e jovens, as circunstâncias, as ações dos outros e a tecnologia.
4. Os riscos são potencialmente maiores para crianças e jovens vulneráveis psicologicamente, tradicionalmente marginalizados, com baixos níveis de competências digitais e/ou que vivem em contextos sem apoio social ou permeados por relações negativas com pais, professores e pares.
- Nestas circunstâncias, estão mais expostos aos riscos, sofrem mais facilmente danos e ao mesmo tempo são menos propensos a procurar ajuda devido ao ambiente precário em que vivem. Por outras palavras, como afirma a UNICEF, a vulnerabilidade offline impacta diretamente a vulnerabilidade online.
5. A exposição a riscos online pode resultar em resultados negativos que incluem ansiedade, depressão, pensamentos suicidas e transtorno de pânico.
- Estudos mostram que a vitimização do cyberbullying está associada a um menor bem-estar psicológico, por exemplo. Este foi o risco mais reportado para as linhas europeias de apoio em 2022 com base no relatório do programa Better Internet for Kids. A UNICEF alerta que mais crianças são espetadoras do cyberbullying do que agressoras ou vítimas, mas que esta experiência pode ter um efeito adverso no bem-estar ao longo do tempo. Os “cyber-espetadores” demonstram menor preocupação moral e menos sentido de responsabilidade do que aqueles que testemunham pessoalmente o bullying na escola.
6. Maiores competências digitais estão associadas a maiores oportunidades online.
- Ainda assim, à medida que se envolvem numa gama mais ampla de atividades, crianças e jovens também ficam mais propensos a encontrar riscos. Porém, esta maior exposição ao risco não se traduz, necessariamente, em mais danos porque podem estar melhor preparados para se defender.
7. Tendo em conta a idade, o género e o contexto em que vivem, crianças e jovens utilizam diferentes estratégias para lidar com experiências negativas online.
- Pedem ajuda a um dos pais, a um amigo ou a ambos, embora raramente contactem um professor. Utilizam táticas como fechar a janela ou aplicação, ou bloquear uma pessoa inconveniente. Outros podem ignorar o problema ou até sentirem-se culpados pelo que aconteceu.
8. A exposição aos riscos online pode acontecer de modo intencional ou acidental (quando se dá através de resultados sugeridos pelo algoritmo ou por ação de outras pessoas).
- Em geral, o encontro acidental supera em muito a procura intencional, segundo resultados do projeto YSkills. Mas houve uma exceção: os inquéritos realizados com 598 adolescentes em Portugal mostraram que a percentagem dos que declararam procurar ativamente conteúdo sobre drogas, álcool, dietas ou outros comportamentos nocivos à saúde subiu de 39% em 2021 para 45% em 2023. Ou seja, o acesso intencional a estes conteúdos parece crescer com a idade.
9. A mediação parental – ou seja, as estratégias adotadas pelos pais para regular, discutir e monitorar o uso dos media pelos filhos – pode afetar a exposição das crianças aos riscos.
- Uma mediação parental positiva que inclua uma comunicação aberta, além de interesse e envolvimento nas práticas digitais dos filhos, promove a confiança nos pais como fonte de suporte para evitar danos online.
10. O grau de exposição aos riscos online parece ser inferior ao que por vezes é temido pelos pais ou divulgado pelos meios de comunicação social.
- Mas há muito a ser feito para garantir um ambiente digital mais seguro para os mais novos, ponderando as prioridades e as consequências dos diferentes tipos de intervenções para melhorar o seu bem-estar digital, especialmente dos que estão em situação de vulnerabilidade.
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Tendo como base os direitos das crianças, investiga sobre a sua representação e consumo de notícias, conhecimentos e práticas digitais enquanto produtoras e consumidoras de conteúdos.
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