Como responder às perguntas das crianças em situações de crise?

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Teresa Sofia Castro

Porque é que eu não posso visitar os meus avós? Porque é que os meninos da Ucrânia têm que fugir? Há crianças que têm medo de serem infetados com COVID, e crianças que, ao ouvirem um foguete, perguntam se é a guerra a chegar. O que pode ajudar a gerir as emoções e as perguntas das crianças em tempos de crise?

As notícias viajam rápido e em larga escala. Títulos e imagens mostram o lado mais horrível e emocional das crises. Mais tarde ou mais cedo, chegam às crianças, pelas redes sociais, nas conversas em casa, na escola ou com os pares. Vários estudos, como este, apontam que o contacto das crianças com os meios de comunicação tende a aumentar em tempos de crise. 

Enfrentamos os efeitos de uma cobertura mediática omnipresente, pervasiva e imediata. Como controlar a exposição direta ou indireta das crianças a estes cenários audiovisuais que mostram o lado mais duro das situações de crise, que assolam o mundo, e ensombram as emoções de todos?

Se, nas crianças mais pequenas, pode ser mais fácil controlar este acesso, nas crianças com maior autonomia digital – já com o seu smartphone ligado à internet e que usam as redes sociais – é certamente mais difícil mediar essa exposição. O acesso chega pela partilha de memes, vídeos não editados, notícias falsas, conteúdos descontextualizados nas suas redes sociais preferidas, como o Instagram ou, WhatsApp ou TikTok.

Partilhamos com pais e profissionais algumas dicas para gerir estes assuntos com as crianças, inspiradas no  New York Times, no guia da UNICEF Portugal e no Guia para situações de crise da Ordem dos Psicólogos.

Perceba as motivações da criança

Por vezes, as crianças fazem perguntas não porque estejam assustadas, mas apenas porque têm curiosidade. Mostre-se disponível e procure perceber o que sabem ou o que viram ou ouviram e onde. Depois, tente responder à sua curiosidade com calma e com a verdade (sempre que possível), sem alarmismos.

Escute com atenção, converse e tranquilize

Em particular com as crianças mais pequenas faça um acompanhamento mais próximo das notícias que consomem em casa. Contextualize. Esclareça dúvidas. As crianças precisam de ajuda para processar o que vêem e ouvem. Não vá além das suas perguntas, mas satisfaça o seu interesse. Se a criança está ansiosa ou preocupada com as notícias, será conveniente acalmá-las e puxar por outros assuntos. No início da pandemia, uma mãe, filmou o filho de quatro anos a dar recomendação de higiene para prevenção de infeção, por exemplo.

Seja claro e sincero

De acordo com a idade da criança, pode dar algumas explicações honestas sem alimentar medos enquanto dá sinais de proteção. Se não souber responder, diga a verdade, diga que não tem resposta.

Seja um influenciador positivo

Estas situações também podem ser olhadas como oportunidades para ajudar a criança a ser um consumidor mais crítico de notícias. Ajude a desconstruir mensagens e converse com a criança sobre o que ela está a ouvir e ver. Partilhe com ela os seus hábitos de consumo de notícias.

Limite a exposição

Se uma notícia é perturbante e deixa a criança ansiosa, preocupada ou afeta, por exemplo, o seu sono da criança, modere essa exposição.

Conheça as plataformas

Plataformas como o YouTube, o Snapchat ou o Twitter são ambiente mediáticos sem curadoria. Se pensa que a criança pode ficar mais curiosa, fazer pesquisas nestas plataformas e encontrar conteúdos perturbadores, procure fazer uma supervisão mais próxima e atenta.

Ensine a verificar as fontes

Ensinar as crianças a verificar quem produziu um artigo ou notícia e fazer com ela uma pesquisa de forma a comparar diferentes fontes sobre um determinado assunto, ajuda-a a detetar notícias falsas e adquirir competências críticas.

Fale sobre algoritmos e bolhas

Com as crianças mais velhas pode introduzir os conceitos de algoritmos e “bolhas” de informação. Pode explicar que as pesquisas e escolhas que fazemos na internet alimentam algoritmos que se tornam peritos nas nossas preferências. Isto leva a que seja mais provável que nos sejam mostradas mais notícias que confirmem a nossa visão do mundo, fechando-nos numa bolha.

Acima de tudo, a criança tem direito a ver respondidas as suas perguntas com verdade e as explicações devem ter em conta a idade. Esta é uma oportunidade para educar as crianças para a paz e mostrar que, mesmo em tempos de crise, há histórias de vida que são verdadeiros exemplos de humanismo e generosidade.


Sugestão:

Se quiser saber mais sobre redes sociais, algoritmos e bolhas, pode explorar o curso gratuito online Cidadão Cibersocial, do Centro Nacional de Cibersegurança.

 

Sobre a Autora

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Teresa Sofia Castro

Investigadora Auxiliar - Univ. Lusófona. CICANT

Tem investigado a relação das crianças de diferentes contextos e a mediação das suas famílias com as tecnologias digitais: usos e competências, como lidam com riscos, práticas de socialização e mediação.