Apesar de os jovens portugueses terem bastante confiança nas suas competências de navegação e informação, importa escrutiná-las, cruzando formas diferentes de medir o que sabem fazer, comparando as suas respostas com as suas práticas. É o que estamos a fazer no projeto europeu ySKILLS, onde Portugal participa.

Neste projeto, a navegação e a pesquisa de informação é um dos quatro domínios de competências, juntamente com as técnicas e operacionais, as de comunicação e interação, e as de criação e disseminação de conteúdo. Todos estes domínios são aferidos tanto no fazer (por exemplo, “sei usar funções avançadas de pesquisa”) como numa vertente crítica (por exemplo, “sei verificar se a informação que encontro online é verdadeira”).

Medindo competências

Para a aferição das competências nesses domínios, o projeto ySKILLS combina a análise de:

• Respostas a um questionário longitudinal, em que os mesmos jovens respondem às mesmas questões em três momentos (2021, 2022 e 2023). Estão envolvidos cerca de mil estudantes do concelho de Cascais. Em 2021, o questionário abrangeu sete escolas, com turmas do 8º ao 10º ano de escolaridade e continha, sobre as competências:
  • Perguntas de autorreporte, em que os jovens se posicionam numa escala de 1 a 5 – onde 1 significa não é verdade e 5 é mesmo verdade – relativamente a afirmações sobre o que sabem fazer na internet.
  • Perguntas de conhecimento, em que devem responder se determinadas afirmações são verdadeiras ou falsas.

• Dados de testes de desempenho, em que os jovens são desafiados a completar tarefas, observando-se as suas competências na prática. Estas tarefas foram pré-testadas com 49 estudantes, dos mesmos anos de escolaridade, do concelho de Castelo Branco, no final de 2020.

Das respostas às práticas

Nas respostas ao questionário, os estudantes tendem a revelar mais dificuldades nas competências relacionadas com a procura e análise de informação, por comparação aos outros domínios.

Ainda assim, as suas declarações são bastante otimistas. Mais de dois terços afirma dominar a pesquisa em sites e a escolha de palavras-chave. Mais de metade diz possuir competências críticas de avaliação de informação. Contudo, são menos de metade os que declaram saber usar funções avançadas de pesquisa.

Nesta primeira aplicação do questionário ySKILLS, menos de metade conhecia as dinâmicas de funcionamento dos algoritmos das redes sociais, especificamente sobre frases relativas à pesquisa online.

Percentagem de respostas certas em itens de conhecimento

O que aparece em primeiro lugar nas pesquisas é sempre a melhor fonte de informação: 39%

Todos recebem a mesma informação quando fazem pesquisas online: 47%

Tarefas de desempenho

As três tarefas dos testes de desempenho sobre competências de navegação e informação estavam relacionadas com temas próximos dos seus interesses, como a plataforma Netflix ou os dinossauros. Para cada tarefa existia apenas uma resposta correta. Os procedimentos de pesquisa ficavam registados informaticamente, permitindo a análise das tentativas realizadas até os 49 participantes encontrarem a resposta.

Tarefa 1: A Netflix é um serviço de streaming muito popular que permite ver uma grande variedade de programas de televisão, filmes, documentários e muito mais. Por favor, abre uma nova janela e usa um motor de pesquisa como o Google, Internet Explorer ou Bing para encontrares o nome de quem fundou a plataforma de streaming. Os fundadores da Netflix são… 46 respostas corretas

Tarefa 2: Em 2018, a Netflix lançou o seu primeiro filme interativo. Abre uma nova janela e usa um motor de pesquisa como o Google ou Bing para encontrares o nome do filme.  Desta vez só tens de procurar notícias de 2018.  O nome deste filme é… 36 respostas corretas

Tarefa 3: Um filme popular na Netflix é o Parque Jurássico. Na realidade, os dinossauros viveram na era Mesozóica. Esta era inclui três períodos. Usa um motor de pesquisa como o Google ou Bing para encontrares os nomes dos três períodos. Os nomes dos três períodos são… 38 respostas corretas

Embora a maioria dos 49 estudantes tenha chegado à resposta certa, a análise ao processo de pesquisa permitiu detetar:

• Uma reduzida definição de termos de pesquisa e preferência por uma repetição da expressão da pergunta (ex: Quem fundou/ criou a netflix / Quem fundou a plataforma streaming Netflix?)
• Dificuldades na interpretação da pergunta (ex: períodos jurássico / Quais os nomes dos três período do Parque Jurassico)
• A residual avaliação da informação encontrada, por exemplo através do confronto com a informação noutro site
• A diminuta utilização de filtros de pesquisa

Nativos ou super confiantes digitais?

Uma grande confiança nas competências digitais em geral por parte de crianças e jovens portugueses foi também encontrada noutros questionários europeus (de 2010, 2014 e 2018) quando comparados os seus resultados com os de outros países.

Contudo, estes resultados cruzados mostram dissonância entre práticas efetivas e o que dizem saber fazer. Por isso, importa ir para além do que dizem, para explorar o que sabem e como fazem.

O uso das tecnologias faz parte da cultura e do processo de desenvolvimento de crianças e adolescentes, mas não se nasce digital. Em particular, a escola tem um importante papel na capacitação para competências como a pesquisa crítica de informação.

Referência:

Batista, S.; Ponte, C.; Gonçalves, E. (2021). O que sabemos e como medimos competências digitais dos jovens portugueses? Reflexões em torno de resultados de projetos de investigação. Em G. Rocha, R. Gonçalves & P. Medeiros (Org.). Juventude(s). Movimento Globais e Desafios Futuros (pp.75-98). V. N. Famalicão, Húmus. http://hdl.handle.net/10400.3/6326