Literacia dos algoritmos: o que podem as crianças aprender?

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Ioli Campos

Os algoritmos já comandam parte da nossa vida. A literacia para os algoritmos consiste na capacitação da sociedade sobre esse impacto. Mas que mensagens podem os educadores passar aos jovens sobre o impacto que os algoritmos têm nas suas vidas e na sociedade?

Cada vez mais se fala na importância dos dados como moeda de troca e no uso da inteligência artificial para a análise dos dados. De tal forma que até se têm vindo a criar novas licenciaturas e mestrados na área dos Big Data. Enquanto uns autores se focam nas oportunidades que os dados criam em termos de novos empregos e maximização do lucro, outros estão preocupados como os dados dos consumidores estão a ser ceifados gratuitamente sem que estes tenham um conhecimento profundo do que se está a passar. A isso, a americana Shoshana Zuboff chama de capitalismo de vigilância.

As crianças e jovens compõem um grupo particularmente vulnerável a alguns desses avanços tecnológicos. Por exemplo, estão muitas vezes menos capacitados para lidar com o impacto das câmaras de eco e podem ter mais dificuldade em compreender como a pegada digital pode ser usada para fins muito diversos e por pessoas estranhas e distantes.

Por isso, vários investigadores na área de educação para os media têm vindo a alertar para a importância da literacia dos algoritmos, um subramo da literacia para os media. É o caso do artigo de Dogruel, Masur e Joeckel, que refere que a falta de literacia aumenta a vulnerabilidade dos utilizadores ao nível individual e societal, nomeadamente a vulnerabilidade a ameaças de manipulação e exploração. Também apontam que a literacia empodera os utilizadores na sua experiência de navegação online, seja a consultar notícias num newsfeed ou a usar apps de encontros românticos. Isto porque passam  a estar mais capacitados para adoptar comportamentos que os protegem.

Algoritmos são construção humana

Os grandes conglemorados dos media não divulgam inteiramente o que está por trás dos algoritmos que usam. Mas há algumas lições que já podemos ir passando aos mais jovens.

Por exemplo, nós sabemos que os algoritmos são uma construção humana, tal como uma fotografia ou um texto noticioso. Nesse sentido, há vários estudos que mostram como os preconceitos de quem cria esses algoritmos podem passar para as fórmulas desenhadas pelos seus criadores e, depois, para os utilizadores e a sociedade.

Nós também sabemos alguns princípios básicos sobre o funcionamento dos algoritmos da Google e da Facebook, como o da personalização dos resultados. Ou seja, o sistema está desenhado para me devolver mais do mesmo, o que limita a minha perceção sobre a diferença.

Conselhos: cuidem dos dados que lançam para o ciberespaço

Então, o que podemos fazer? E o que podemos ensinar aos jovens e crianças? Várias ideias:

  • Façam logout das contas de redes sociais e email depois de as usarem
  • Façam pesquisas através de “janela privada” ou “private window”
  • Usem motores de busca que privilegiem a privacidade como o Duck Duck Go, que diz bloquear trackers e usar incriptação
  • Não aceitem as cookies em todos os sites que entram
  • Cuidem da vossa pegada digital

Sobre a Autora

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Ioli Campos

Professora Auxiliar - Univ. Católica

Consultora na área dos media digitais, jornalismo e direitos humanos para organizações internacionais, como NSC Conselho da Europa, OSCE e União Europeia.

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