
Viktoriia Goncharenko
9 de Outubro, 2025
Nesta segunda parte da entrevista, Andrei fala das diferenças entre usar ou não inteligência artificial para tarefas especializadas e reflete sobre como, muitas vezes, o seu uso para a escola não ajuda a aprender: “É como usar um alicate para cortar fiambre”.
Diz-me uma coisa — voltando à parte em que usas para programar, para criar sites e isso. Achas que conseguirias fazer o mesmo sem usar IA? E o que é que seria diferente?
Sim, basicamente conseguiria, tranquilo, só que demoraria mais tempo.
Então a única diferença é o tempo?
Sim, porque se estiveres a procurar num fórum por uma dúvida específica, vais encontrar respostas só para essa dúvida. Já a IA consegue dar-te uma resposta mais completa para várias questões ao mesmo tempo, tudo num só bloco. E até pode dar-te um código que resolve várias coisas ao mesmo tempo, já otimizado para isso. Se fores tu a fazer tudo à mão, vais ter de juntar as peças todas sozinho, e às vezes nem funcionam bem, tens de reescrever. Isso é possível, e até pode ser melhor porque entendes melhor o que estás a fazer — porque foste tu a montar tudo aos poucos — mas é muito mais demorado.
E o resultado seria o mesmo? Ou seja, se deixarmos de lado o facto de entenderes melhor, o site em si, seria igual?
Se estivermos a falar só da parte técnica, talvez o site feito por ti mesmo, com total compreensão do que está a acontecer, fique melhor.
Porquê?
Porque as IAs não são os melhores programadores. Acontece muitas vezes que uma pessoa cria um site inteiro com IA, dá o prompt, e a IA escreve tudo — mas às vezes tenta usar bibliotecas que nem existem. À partida isso não é um problema grave, porque não funciona e pronto. Mas houve pessoas espertas que perceberam que a IA estava sempre a tentar ir buscar uma certa biblioteca que não existia — e então foram lá e criaram-na. E o que essas pessoas colocaram lá dentro pode ser qualquer coisa. E a IA, sem saber, vai incluir esse código no teu projeto — e isso pode ter consequências. Por isso é sempre melhor perceber bem o que estás a fazer. Quando pedes um código à IA, tens mesmo de o analisar, perceber se está bem feito. Se simplesmente copiares e usares, pode ser perigoso — pode estar mal e acabar por dar ainda mais trabalho. Pensas que está tudo a funcionar e afinal não está.
Para que é que usas inteligência artificial, além de programação?
Também uso muito para criar ícones ou capas para músicas. Eu fazia upload das músicas no SoundCloud, e uma vez fiz uma capa com IA.
E a música, foste tu que compuseste?
Sim, fui eu. A única coisa em que pedi ajuda à IA foi para aprender jazz. Eu queria perceber como funcionam as harmonias no jazz — só conhecia uma e queria aprender a construí-las, ver as progressões de acordes. Perguntei ao Chat GPT quais eram as harmonias mais usadas e como construir os acordes. Usei para isso. E também uso muito para o português. Abro o Chat GPT no telemóvel, meto entre mim e o caderno ou ao lado. Uso-o para traduzir do português para o russo e do russo para o português — acho até melhor do que o DeepL, que também usa IA, mas não traduz tão bem. Porque o Chat GPT consegue manter o contexto, e isso faz toda a diferença.
E achas que ele te ajuda mesmo nos estudos por causa da língua? Como seria se não tivesses IA?
Bem, se for só para traduzir e perceber o que está escrito, dá para usar outro tradutor qualquer. Mas se for para escrever algo em português para outra pessoa, aí é muito útil. Eu costumo pedir: “Traduz-me estas palavras para português, e explica-me como se formam.” Por exemplo, o termo “pára-brisas” — eu pedi que me explicasse o que quer dizer. Ele disse que é literalmente “parador de vento”. E isso ajuda muito — quando percebes como a palavra se forma, é mais fácil memorizar. Um tradutor normal não te explica isso. E se quiseres escrever para um português, é melhor usar o Chat GPT, porque os tradutores podem não ser tão fiéis ao contexto. O Chat GPT vê o contexto e traduz melhor. E nunca me aconteceu um português dizer que escrevi alguma coisa de forma errada.
Se estás a usar a IA só para perguntar “qual é a fórmula do benzeno?”, porque te dá preguiça de procurar — ótimo. Mas se a tua intenção era mesmo aprender algo, e copiaste sem pensar, então do ponto de vista da IA seria estranho, porque ela nem sempre dá uma resposta que dá para copiar tal e qual. Tens de extrair o que precisas dali. E do ponto de vista do professor, que quer que aprendas — então aí é mau. Não dá para dizer se é bom ou mau, porque é só uma ferramenta — o importante é usá-la de forma certa. É como se usasses um alicate para cortar fiambre — não é esse o propósito.
Pois, pois.
Pronto. Mas esse é um dos lados negativos, talvez, das redes neurais: quando tens tudo ali ao teu dispor, tudo o que elas te podem responder… raramente ficas com alguma coisa na cabeça. Tens de saber perguntar bem, perguntar já a pensar que aquilo deve ficar contigo, que é para aprenderes mesmo. Se perguntas só para resolver algo no momento – elas respondem, tu usas a resposta, colas no sítio, fazes o que tens a fazer… e esqueces. Isso não é propriamente uma boa forma de usar.
Continua
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Sobre a Autora
Viktoriia Goncharenko
Estudante de Mestrado em Migrações, Inter-Etnicidades e Transnacionalismo na Universidade NOVA de Lisboa
Os seus interesses de investigação incluem a adaptação de adolescentes migrantes em Portugal, o papel da inteligência artificial nos processos de aprendizagem de alunos com língua não materna e as representações mediáticas da migração.
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