A voz de Líderes Digitais já se ouve há 10 anos

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Cristina Ponte

Os mais novos são os Líderes Digitais Benjamins, os mais velhos frequentam o 3.º Ciclo e o ensino secundário. Todos são voluntários. Os 10 anos desta iniciativa da Direção-Geral da Educação reuniu delegações de escolas de vários pontos do país. Estivemos lá e registamos o seu empenho em tornar o mundo digital – sempre em mudança! – mais seguro e mais adequado aos direitos dos mais novos.

A iniciativa Líderes Digitais nasceu no ano letivo de 2014-2015, quando quase não se falava na internet das coisas e muito menos em inteligência artificial generativa. Quando os usos da internet por crianças e jovens, sobretudo virados para a comunicação e o entretenimento, passavam muito ao lado da escola.

Mas sabia-se que a escola poderia ser o melhor local para aprenderem em conjunto sobre usos responsáveis e seguros. E que alunos internautas poderiam ser os melhores a explicar esta matéria, por partilharem com os colegas os mesmos interesses e vontade em tirar partido destes recursos.

O que fazem os Líderes Digitais?

Além de promoverem competências dos colegas, os Líderes Digitais também se relacionam com outros membros da comunidade educativa e, por vezes, são mesmo convidados a participar em debates sobre medidas a tomar para promover o bem-estar e a cidadania digital, no país e na Europa.

Isso tem acontecido no Safer Internet Forum, em Bruxelas, e aconteceu este ano em Lisboa, no Encontro Europeu School Innovation Forum 2025, promovido pela European Schoolnet que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian.

Aí, perante uma audiência de especialistas e decisores europeus de políticas digitais e de educação, cinco Líderes Digitais portugueses falaram sobre “Porque o bem-estar digital também se constrói com os jovens — e não apenas para eles”.

Protagonismo no evento de aniversário

O evento dos 10 anos desta iniciativa decorreu em maio, no Colégio Júlio Dinis, no Porto e foi preparado pelos seus Líderes Digitais. Contou com a participação no local de dezenas de colegas de outras escolas, de norte a sul, e muitos mais seguiram por streaming.

Os líderes digitais foram os moderadores das sessões plenárias e asseguraram o funcionamento de workshops, dinamizados por várias entidades e dirigidos aos dois grupos, Líderes Digitais e Líderes Digitais Benjamins.

Estivemos lá e falámos na sessão plenária dirigida aos Líderes Digitais Benjamins (7-12 anos) sobre Bem-Estar e Cidadania Digital.

A história que contámos

Começámos com uma viagem no tempo, perguntando aos benjamins se as suas mães tinham nascido depois de 1990. Todas tinham nascido antes. Começámos quando as mães destes líderes digitais benjamins eram elas mesmas crianças.

Os primeiros computadores chegaram às escolas primárias portuguesas, em 1985. Neles, os alunos escreviam textos em conjunto e que depois aperfeiçoavam, ou programavam figuras geométricas com a linguagem Logo. Nem se sonhava com a internet.

Se tiver memórias desses tempos, como aluno ou aluna, teríamos muito gosto em que nos contasse.

Como hoje, havia professores com dificuldades em lidar com estes novos recursos tecnológicos. Os primeiros “líderes digitais benjamins” apareceram quando professores como Natividade Mourão (53 anos, docente do 4º ano) disseram alto e bom som aos colegas:

“Eu não percebo nada disto, mas não é por causa disso que os meus alunos não vão poder usar o computador. Os que já aprenderam e já sabem vão ajudar os que não sabem.”

Em 1989, surgiu a World Wide Web (WWW) e só então a internet começou a ligar computadores fora de universidades e de quartéis. Perguntamos ao nosso público se sabia de outros acontecimentos desse ano. Braço no ar e resposta certeira de uma líder digital benjamim: “A queda do Muro de Berlim”.

Muito bem! Certíssimo! Outro acontecimento de 1989 foi a aprovação pelas Nações Unidas da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança. Claro que não fazia referência a direitos digitais, a internet como a conhecemos hoje estava então a dar os primeiros passos.

E embora a internet não tivesse sido pensada para crianças e jovens com menos de 18 anos, já em 2017 se calculava que mais de um terço dos internautas de todo o mundo tivesse essa idade.

Foi só em 2021 que, no Comentário Geral nº 25 das Nações Unidas foram definidos os Direitos da Criança no ambiente digital. Para esse documento contribuíram muitas pessoas, entre elas mais de 700 adolescentes de 27 países, em workshops de discussão. Vimos algumas das atividades que foram aí realizadas (Operações e Missões que estão nos recursos da plataforma). E vimos os 11 direitos digitais que saíram desse documento:

  1. Direito à privacidade;
  2. Direito à saúde;
  3. Direito à educação;
  4. Direito à justiça;
  5. Direito a participar;
  6. Direito à informação;
  7. Direito a brincar e ao tempo livre;
  8. Direito a sentir-se em segurança;
  9. Direito a não ser explorado;
  10. Direito a ter voz;
  11. E, acima de tudo: Direito a seres tu.

Por fim, falámos da colaboração que a CriA.On tem tido com os Líderes Digitais, nos recursos sobre Dados: Os dados estão lançados e Pegadas digitais.

A sessão foi moderada pela Maria David, Líder Digital, e contou com uma grande participação dos Líderes Digitais Benjamins. É ver as perguntas que nos fizeram.

Cristina Ponte na sessão plenária dirigida aos Líderes Digitais Benjamins

Para saber mais…

A iniciativa Líderes Digitais enquadra-se na ação do Centro de Sensibilização SeguraNet, da responsabilidade da Direção-Geral da Educação, que integra o Consórcio Público-Privado Internet Segura. Este consórcio faz parte da rede europeia de Centros Internet Segura, alinhada com a Estratégia Europeia para uma Internet Melhor para as Crianças.

Antes de 2014/2015, o Painel de Jovens SeguraNet envolvia apenas quatro agrupamentos de escolas a nível nacional. A iniciativa inspirou-se no exemplo do Centro Internet Segura do Reino Unido e foi então implementada.

Como se lê no site, os Líderes Digitais têm como missão intervir junto dos seus pares e dos restantes membros da comunidade educativa em que se inserem, incentivando-os à adoção de uma atitude crítica, refletida e responsável no uso das tecnologias e dos ambientes digitais.

Além das duas categorias “Líderes Digitais Benjamins” e “Líderes Digitais”, existe ainda um painel de jovens especialistas, constituído por cerca de 20 Líderes Digitais que se distinguem pelo seu envolvimento ativo em iniciativas de relevo, tanto a nível nacional como europeu.

É professor ou professora e quer participar?

Para participar com os alunos nas categorias ‘Líderes Digitais’ e/ou ‘Líderes Digitais Benjamins’, deverá candidatar-se na próxima edição, a lançar no início do próximo ano letivo.

Sobre a Autora

Cristina Ponte

Professora Catedrática - NOVA FCSH. ICNOVA

Tem investigado a relação de crianças e jovens com os media na perspetiva dos seus direitos e contextos familiares em projetos nacionais e europeus.