Vasco Araújo
3 de Julho, 2022
Para os jovens, que cresceram na era digital, a informação noticiosa tende cada vez mais a chegar pelas redes sociais. Que desafios traz este ambiente digital para o jornalismo e para os direitos à informação e à participação dos mais novos?
O estudo etnográfico de Lynn Clark e Regina Marchi (2006-2016) sobre a relação de jovens urbanos norte-americanos com as notícias dá algumas pistas, mostrando a passagem do jornalismo tradicional para um jornalismo de conexão nas redes sociais.
As duas investigadoras observaram como os estudantes do ensino secundário experienciavam a política, o jornalismo e as redes sociais. Realizaram entrevistas a mais de 200 estudantes, 27 grupos de foco, e também entrevistaram pais, educadores e outros profissionais ligados a jovens. Com esse levantamento, concluíram que o jornalismo tradicional, objetivo e imparcial, na visão dos jovens, se tornou irrelevante.
Por um jornalismo de conexão
Para os jovens é necessário que os meios noticiosos inovem na forma como as notícias lhes são apresentadas. Os novos modelos jornalísticos para os jovens passam por aquilo a que Clark e Marchi chamam de jornalismo de conexão.
O jornalismo de conexão está associado à construção de uma identidade individual e coletiva, na qual a comunicação passa por amplificar as vozes dos jovens sobre como eles próprios veem o mundo à sua volta, e os sentimentos que surgem dessa visão. Este jornalismo de conexão baseia-se na partilha, e como tal, existe uma dimensão emocional associada a estas novas práticas do jornalismo.
Os sentimentos e as emoções – sejam de angústia, diversão, alegria, apreciação, raiva ou outras – estão vinculados à forma como os jovens partilham o que lhes é importante. Por isso, este modelo de jornalismo atribuí um maior significado à construção de uma narrativa mais humana, na qual grupos diferenciados de jovens partilham as suas próprias experiências ao navegarem num universo cada vez mais digital.
As redes sociais são o principal canal pelo qual os jovens consomem notícias – quase sempre sob a forma de um convite informal para uma conversa, sugerida por um amigo ou conhecido. É também relevante considerar vídeos de YouTube, menções de notícias por parte de celebridades digitais, ou até mesmo a abordagem humorística da informação feita por programas de comédia.
Para os jovens, estes canais sobrepõem-se a outros canais jornalísticos mais ‘autoritários’, nos quais a imparcialidade e a objetividade na transmissão das notícias são ainda pilares de base associados a um jornalismo credível e de qualidade.
Desafios para a produção de informação
Para além de não se conectarem com a autoridade jornalística, os jovens consideram a audiência dos modelos mais tradicionais de jornalismo como sendo distinta deles e dos grupos sociais com os quais eles se identificam. Por outro lado, não sentem uma ligação com conteúdos que estão geralmente presentes na agenda jornalística.
Como tal, Clark e Marchi referem que deve haver um esforço por parte dos produtores de notícias por criarem notícias que sejam pensadas para os jovens, bem como uma aposta num jornalismo participativo, no qual os jovens produzem notícias de temas que lhes sejam importantes.
O futuro do consumo de notícias pelos jovens pode incluir novos modelos jornalísticos que consideram práticas digitais emergentes dos jovens. Práticas digitais ligadas à sua hiper conectividade nas redes sociais, por exemplo, bem como a relação dos jovens com determinados temas e histórias que são para eles focos de interesse particulares.
Uma ideia interessante na qual vale a pena refletir. Por parte de quem trabalha diretamente com jovens, nas escolas, associações e outros ambientes informais, e também por parte dos profissionais de informação.
Sobre o Autor
Investiga a relação entre jovens e notícias no digital, em plataformas onde fontes de informação negoceiam com as audiências a sua representação.
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