Mapa do Digital: Atividades participativas na promoção da literacia digital dos adolescentes

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Mariana Moreira

Embarquei no desafio de explorar um recurso CriA.On na expectativa de mostrar que atividades participativas podem constituir soluções pedagógicas eficazes na promoção e avaliação da literacia digital. Abracei o ‘Mapa do Digital’ não só como oportunidade de reflexão para adolescentes sobre o ambiente digital, mas também como recurso para detetar áreas de literacia digital que necessitam de atenção.

A atividade do “Mapa do Digital”, do projeto ySKILLS, tinha sido desenvolvida e aplicada em 2021 para conhecer as competências digitais de adolescentes em situação de refugiados. Quis perceber a sua aplicabilidade anos depois e explorar de que modo é experienciada por adolescentes de outro contexto social.

Neste estudo realizado em abril de 2025, participaram quatro raparigas e quatro rapazes, com idades entre os 16 e 18 anos, alunos de uma turma de 11º ano de uma escola profissional com cursos variados. Para promover o debate ativo, envolvi-me apenas na moderação da discussão.

O que é o Mapa do Digital?

É um mapa impresso, de grandes dimensões (A0 ou A1), com seis áreas distintas: Comunicar; Aprender; Cuidar de si e dos outros; Conviver e conectar-se; Sentir-se seguro e protegido; Procurar informação.

A atividade de grupo incentiva os participantes a mapear – mediante ícone de dispositivos e plataformas digitais, emojis e outros, disponibilizados à parte – as necessidades, obstáculos e responsabilidades que encontram no ambiente digital, naquelas diferentes áreas (Figura 1).

As justificações proporcionam debate e reflexão coletiva sobre conhecimentos e competências digitais, como se pode ver neste seu preenchimento (Figura 2).

Figura 1. Mapa Digital vazioFigura 2. Mapa Digital preenchido

O que a atividade evidenciou?

Da sistematização sobre usos, oportunidades, obstáculos e responsabilidades, apresento aqui as associadas a Comunicação e Aprendizagem. As associadas às restantes quatro áreas podem ser encontradas no estudo.

Tabela 1. Usos, oportunidades, obstáculos e responsabilidades de Comunicar e Aprender

Como vemos, as plataformas variam consoante o que se pretende nos usos, enquanto os dispositivos são sempre liderados pelos smartphones.

O meu estudo começa por apresentar os enquadramentos teóricos que conduziram esta análise:

  • Os quatro domínios de literacia digital do projeto ySKILLS: comunicação e interação; tecnológico; criação e produção de conteúdos; navegação e pesquisa de informação;
  • Os quatro C da tipologia de riscos desenvolvida na rede EU Kids Online: conteúdos danosos; contactos indesejados recebidos; condutas dos próprios adolescentes; contratos que permitem acesso a dados pessoais (esta tipologia está integrada no programa europeu Better Internet for Kids).

Neste grupo, salientam-se competências no domínio de comunicação e interação.

Dei conta de que uma área que não está contemplada no Mapa e que constitui um dos domínios da literacia digital é a da criação e produção de conteúdos, sendo desafiante apurar conhecimentos nessa dimensão.

A dimensão funcional da literacia digital (saber usar) aparenta estar consolidada, à exceção da personalização algorítmica.

Também a dimensão crítica (pensar sobre o uso) se revela em comentários sobre potenciais riscos do digital, capacidade de diferenciar entre condutas positivas e negativas, consciência de importância de assegurar a privacidade e proteção de dados online, alertando para não se poder “acreditar” em tudo o que se encontra no meio digital.

Os riscos de conteúdo salientam-se face aos restantes. Aponta-se conhecimento de riscos específicos de conteúdo, de conduta e de contacto (estes aparentam estar relacionados com agressividade e valores, não tanto com riscos sexuais e comerciais), bem como atitudes responsáveis a adotar perante estes riscos.

Como pontos menos desenvolvidos denotam-se a falta de conhecimento do funcionamento dos algoritmos, bem como algum hiato na avaliação crítica de fontes jornalísticas.

“As plataformas parecem conhecer-nos melhor do que nós as elas” (participante)

Riscos de contrato (os associados à captura de dados pessoais, depois vendidos a entidades interessadas, como empresas e instituições) parecem mais distantes, pois não foram apontadas situações de publicidade dirigida ou de vigilância, o que pode indicar a necessidade de desenvolver conhecimentos neste domínio.

Na reflexão sobre o que seria literacia digital para cada um, os participantes apontaram:

  • Relação entre adquirir competências digitais e desenvolver “pensamento crítico e cívico”;
  • Avaliação mais consciente das opiniões online;
  • Competências de navegação e de procura de informação;
  • Conhecimentos relacionados com a proteção de dados e privacidade;
  • Melhores competências de comunicação, a nível académico.

Notas finais

A atividade “Mapa do Digital” constitui uma ferramenta e abordagem participativa apreciada pelos adolescentes. No entanto, para alinhar a atividade às experiências atuais dos adolescentes, quem a pretender aplicar deve considerar a atualização de ícones de plataformas – Chat GPT, por exemplo. Pode ser um processo também a envolver os participantes.

A partir deste recurso, seria interessante considerar a possível adição de uma área de “Criação e Produção de Conteúdos”.

Os participantes apreciaram muito o facto de a atividade ter sido realizada em torno da grande folha de papel e de poderem manipular os ícones e acrescentar comentários. Contudo, uma possível adaptação a formato digital facilitaria a sua atualização e acessibilidade.

Além disto, verifiquei a importância de pontuar as oportunidades do ambiente digital, de modo a evitar a abordagem excessivamente protecionista na promoção de literacia digital, que marcou os seus primeiros anos, aqui analisada.

Considero ainda que o “Mapa do Digital” pode ser útil como diagnóstico, numa fase inicial de promoção de programas de literacia digital, para posteriormente se investir nos domínios de literacia que se apresentem menos desenvolvidos.

Sobre a Autora

Mariana Moreira

Mestranda em Ciências da Comunicação na NOVA FCSH

Licenciada em Audiovisual e Multimédia pela ESCS-IPL e mestranda em Ciências da Comunicação na NOVA FCSH. Formadora em Técnicas Audiovisuais e Sistemas de Informação Multimédia, tem interesse em investigação sobre literacia mediática, digital e das notícias, em particular junto de públicos jovens.