Quatro perfis de competências digitais entre adolescentes

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Margarida Garcia

Que competências digitais apresentam os jovens portugueses? Em quais se destacam e em quais mostram mais dificuldade? O que nos dizem os quatro perfis traçados a partir da análise aos resultados da primeira série do questionário ySKILLS em Portugal?

 As competências digitais são definidas, no projeto europeu ySKILLS, como ferramentas e conhecimentos que permitem executar tarefas ou ações online ou nos dispositivos digitais. Dominar estas competências digitais  permite utilizar a internet e os dispositivos digitais de forma proveitosa e benéfica, minimizando os seus riscos.

Estas ferramentas e conhecimentos incorporam uma dimensão funcional – de utilização prática dos dispositivos – e uma dimensão crítica, a avaliação, análise e interpretação daquilo que é encontrado e a consciência dos seus impactos.

O projeto ySKILLS  considera quatro domínios de competências:

  • Competências informacionais e de navegação: dizem respeito a pesquisas feitas na internet e nos motores de busca. Mais especificamente, à procura, seleção e avaliação feita da informação pesquisada (por exemplo, perceber se determinado site possui informação fidedigna ou não).
  • Competências técnicas e operacionais: estão relacionadas com as tarefas e atividades realizadas nos diversos dispositivos ou plataformas, nomeadamente o manuseamento de configurações dos dispositivos (como saber ligar/desligar as definições de localização).
  • Competências de comunicação e de interação: remetem para o domínio social e relacional online, desde saber estabelecer contacto com outros até saber reportar comportamentos ou conteúdos negativos.
  • Competências de criação e disseminação de conteúdos: incluem não só a criação e alteração de conteúdos digitais que podem ser publicados na internet, mas também avaliações no domínio dos impactos que determinadas publicações podem ter em si ou nos outros.
  • Considera-se ainda, isoladamente, a competência de programação, que remete para o conhecimento e utilização de linguagem de programação.

Portugal no estudo longitudinal ySKILLS

Com a Alemanha, Estónia, Finlândia, Itália e Polónia, Portugal participa num estudo longitudinal deste projeto, que visa acompanhar o desenvolvimento de competências. Os mesmos estudantes dos seis países respondem ao mesmo questionário em três anos (2021, 2022, 2023) a fim de se averiguar como se desenvolvem as suas competências digitais.

Além de perguntas sobre competências e conhecimentos digitais, o questionário, inclui perguntas de caracterização demográfica, sobre o seu bem-estar físico e psicológico, ambientes digitais e atividades, experiências de risco e mediação familiar.

Em Portugal, foram inquiridos na primeira série do questionário, em 2021, 1048 jovens entre os 12 e os 17 anos, e que frequentavam turmas entre o 7º e o 10º ano de escolaridade em escolas do concelho de Cascais. Equilibrada em termos de género, na distribuição por idade predominavam as abaixo dos 15 anos: metade tinha 14-15 anos e 12 por cento estava entre os 12 e os 13 anos. Assim, pouco mais de um terço (38 por cento) tinha 16-17 anos.

A partir dos resultados apurados nesta primeira série, procurámos definir grupos de jovens em função da forma como reportaram as suas competências digitais. Num conjunto diversificado de indicadores correspondentes aos domínios de competências acima referidos, identificámos quatro perfis:

Comunicadores

  • Jovens que reportam boas competências digitais no geral
  • Maior grupo, com 465 jovens, equilibrado em termos de género
  • São o perfil com maior número de jovens mais velhos (16-17 anos)
  • Destacam-se pela competência de comunicação e interação e, no extremo oposto, apresentam os valores menores na competência de programação
  • É o segundo perfil com as médias por competências mais elevadas
  • O mais comum é passarem cerca de 3 ou 5 horas online diárias e, em muitos casos, 7 horas online

Pouco Competentes

  • 242 jovens, maioritariamente raparigas (62%) entre os 14 e 15 anos
  • Jovens com as médias mais baixas de competências, face a todos os outros;
  • Jovens com as médias mais baixas de competências, em todos os domínios
  • São os que declaram passar menos tempo online (cerca de 3 horas)

Muito Competentes

  • 200 jovens, maioritariamente rapazes (61%)
  • São os que se revelam mais confiantes nas suas habilidades digitais
  • Segundo perfil com jovens mais velhos (16-17 anos)
  • Destacam-se em todas as competências, tendo médias elevadas em todas elas
  • São os que passam mais tempo online

Programadores

  • 83 jovens, ligeiramente mais rapazes que raparigas;
  • Maioritariamente jovens na faixa etária 14-15 anos;
  • Destacam-se pela competência de programação e pelo domínio técnico e operacional da utilização dos dispositivos;
  • Declaram passar entre 2 a 5 horas online diariamente.

 Reflexões e questões

  • Existem diferenças de género evidentes: as raparigas assumem-se como menos competentes que os rapazes. Será esta uma questão de competências efetivas ou de maior confiança nas mesmas por parte dos rapazes?
  • Se o maior perfil de jovens se destaca pelas competências de comunicação – as atividades online mais frequentes entre todos os jovens inquiridos – o perfil com menos jovens é aquele que diz dominar mais a competência de programação. O que distinguirá  (ou não) este perfil dos outros nos domínios da sociabilização?
  • O perfil de jovens pouco competentes apresenta um número elevado de raparigas em plena adolescência: o que poderá ser feito para inverter estes números?
  • No geral, é nas competências ligadas à recolha e análise de informação que os jovens portugueses mostram mais dificuldades, em linha com a tendência encontrada nos restantes países deste estudo.

Sobre a Autora

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Margarida Garcia

Estudante de Mestrado em Estudos de Educação - NOVA FCSH

Com formação em Educação Básica, tem grande interesse pela educação informal e de como se pode aprender fora da sala de aula.