Aprender com o digital

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Eduarda Ferreira

Estas descrições são de alunos e alunas das nossas escolas, atualmente, em Portugal. Não são projeções de futuros ainda por concretizar.

O Martim arruma a mochila para ir para a escola, leva consigo o telemóvel, o computador com internet móvel, um caderno e canetas. Está entusiasmado, hoje vai estar a trabalhar em grupo num projeto que a turma está a desenvolver e que é comum a várias disciplinas. Já tem todo o planeamento da atividade na Google Classroom e fez algumas atividades de avaliação formativa online, com feedback automático, que lhe permitiu perceber se está bem preparado ou se precisa de rever alguns conteúdos.

A Joana esteve a preparar uma apresentação de um trabalho que realizou com as colegas, criaram uma apresentação online em modo colaborativo, trabalharam no mesmo documento cada uma em sua casa. Para a realização do trabalho fizeram pesquisas num motor de busca na Internet, e quando tiveram dúvidas comunicaram com docentes no Teams (plataforma que a escola utiliza para suporte às aprendizagens). Ainda estão a pensar criar um vídeo para partilharem no portefólio digital dos trabalhos da turma. 

Plano de transição digital

As escolas portuguesas estão em plena transição digital. Está a decorrer o Plano de Transição Digital com disponibilização de equipamento individual e conectividade móvel gratuita a alunos e docentes, acesso a recursos educativos digitais de qualidade, e uma forte aposta num plano de capacitação digital de docentes.

O projeto piloto dos manuais digitais já está no seu terceiro ano de implementação, com 68 escolas envolvidas, num total de 575 turmas e mais de 11.400 alunas/os. A avaliação externa das aprendizagens já está em plena transição para a desmaterialização: este ano letivo as provas de aferição (2º ano, 5º ano e 8º ano) vão ser feitas em todas as escolas em suporte digital; as provas finais de ciclo (9º ano) e os exames finais nacionais (11º ano e 12º ano) vão ser universalmente realizadas em formato digital respetivamente em 2023/24 e 2024/25.

Nem todas as escolas têm as mesmas condições, existem obstáculos ao nível das infra-estruturas, diferentes níveis de capacitação digital de docentes e formas de gestão escolar diversas. Mas o processo de transição já começou e as mudanças são visíveis.

Metodologias ativas

Mas a mudança nas nossas escolas não se resume a mais tecnologias digitais e mais competências digitais de docentes e alunos. A mudança mais significativa é ao nível das práticas pedagógicas, em que alunas e alunos têm um papel ativo no seu processo de ensino-aprendizagem. A sala de aula já não é só mesas, cadeiras e alunos virados para um docente e quadro, em que todos desenvolvem as mesmas atividades. Temos tudo isso, mas também temos salas com mesas organizadas em ilhas para trabalho colaborativo, computadores com acesso à internet, várias fontes de informação para além do docente e do manual, e diferentes tipos de atividades de acordo com o percurso de cada aluno.

As tecnologias digitais têm a enorme potencialidade de facilitar estratégias ativas de ensino-aprendizagem, promover competências e atitudes criativas. Alguns exemplos:

  • Apoiar a aprendizagem autorregulada dos alunos, i.e., permitir que planeiem, monitorizem e reflitam sobre a sua própria aprendizagem;
  • Facilitar o envolvimento ativo dos alunos, p. ex., quando exploram um tópico, experimentam diferentes opções ou soluções, compreendem ligações e chegam a soluções criativas;
  • Atender às diversas necessidades de aprendizagem dos alunos, permitindo que estes progridam a diferentes níveis e velocidades e sigam caminhos e objetivos de aprendizagem individuais;
  • Promover a participação em debates públicos e o exercício de uma cidadania ativa e consciente.

Competências para o século XXI

O que está em causa são as competências que alunos e alunas devem desenvolver. Estão definidas as aprendizagens essenciais ao nível dos conhecimentos, capacidades e atitudes, que devem ser desenvolvidas ao longo da escolaridade obrigatória. Com base nas aprendizagens essenciais foi definido um Perfil  dos  Alunos  à  Saída  da  Escolaridade  Obrigatória que identifica o que se pretende que os jovens alcancem no final da escolaridade  obrigatória, do qual salientamos:

  • estar munido de múltiplas literacias que lhe permitam analisar e questionar criticamente a realidade, avaliar e selecionar a informação, formular hipóteses e tomar decisões fundamentadas no seu dia a dia;
  • ser capaz de lidar com a mudança e com a incerteza num mundo em rápida transformação;
  • ser capaz de pensar crítica e autonomamente, ser criativo, com competência de trabalho colaborativo e com capacidade de comunicação;
  • estar apto a continuar a aprendizagem ao longo da vida, como fator decisivo do seu desenvolvimento pessoal e da sua intervenção social.

Queremos alunos e alunas com as competências essenciais para o século XXI, como a colaboração, comunicação, criatividade, pensamento crítico, e que sejam autónomos e autoconfiantes. E para tal, são necessárias metodologias de aprendizagem em que alunos e alunas tenham um papel central e ativo. E neste contexto as tecnologias digitais são claramente um facilitador das metodologias ativas de aprendizagem.

O Martim e a Joana fazem parte dos muitos alunos e alunas em Portugal que já embarcaram na transição digital das nossas escolas. E com as mudanças em curso, cada vez teremos mais alunos e alunas envolvidos num processo educativo que os prepara para a vida na sociedade atual. 

Sobre a Autora

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Eduarda Ferreira

Psicóloga Educacional - CICS.NOVA.

Interesses de investigação: web geoespacial, TIC na educação, inclusão digital, sexualidades e igualdade de género.