Inteligência Artificial em contexto escolar: princípios e percurso de um Agrupamento

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Carlos Pinheiro

A rápida evolução da Inteligência Artificial (IA) e das tecnologias digitais está a transformar a forma como aprendemos, ensinamos e interagimos com a informação.

O papel da escola é central na preparação dos cidadãos para compreenderem, utilizarem e avaliarem criticamente estas ferramentas. Procurando que o progresso tecnológico se traduza em oportunidades de aprendizagem mais equitativas, éticas e significativas.

Abordar as temáticas da IA em contexto escolar é uma necessidade educativa e social. Significa promover competências de literacia digital e algorítmica, essenciais para que alunos e professores possam interpretar o funcionamento e as implicações das tecnologias inteligentes, desde os mecanismos de recomendação até à geração automática de conteúdos.

Implica também fomentar o pensamento crítico, a criatividade e a responsabilidade ética, valores indispensáveis numa sociedade onde as fronteiras entre o humano e o tecnológico se tornam cada vez mais difusas.

Uma intervenção num território educativo

O Agrupamento de Escolas Leal da Câmara (AELC) inclui cinco escolas do ensino básico e uma escola secundária. Situado na freguesia de Rio de Mouro (concelho de Sintra), é frequentado por 3500 alunos, do pré-escolar ao 12.º ano, incluindo ensino profissional.

Desde 2023 que o Agrupamento de Escolas Leal da Câmara (AELC), desenvolve um processo progressivo e participado de reflexão, formação e definição de orientações sobre o impacto da Inteligência Artificial (IA) na educação.

Nesse ano:

  • Em janeiro, o Conselho Pedagógico do AELC realizou uma primeira reflexão sobre os potenciais impactos da IA na Educação, identificando oportunidades e desafios emergentes. Da reflexão resultaram recomendações preliminares relativas aos critérios de avaliação, de forma a garantir a equidade e a autenticidade das aprendizagens.
  • Em abril, um workshop para 30 professores permitiu aprofundar o debate e sensibilizar a comunidade educativa para as implicações pedagógicas do uso de ferramentas de IA.
  • Em junho, foi feito um diagnóstico de necessidades de formação, destinado a identificar as áreas prioritárias para o desenvolvimento profissional dos docentes neste domínio.
  • Em setembro, nas IX Jornadas Pedagógicas do AELC, foram dinamizados dois workshops sobre IA, envolvendo 55 professores, que contribuíram para alargar a reflexão e partilhar práticas emergentes de integração responsável da IA em contexto educativo.
  • Em outubro, iniciou-se o processo de revisão do Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital da Escola (PADDE), incorporando uma análise sobre os impactos da IA na organização e nas práticas pedagógicas.

Em 2024:

  • Em abril, a equipa PADDE elaborou uma proposta de “Princípios para a utilização da IA no Agrupamento de Escolas”.
  • Nas semanas seguintes, a proposta foi objeto de reflexão e análise por parte dos departamentos curriculares, que apresentaram sugestões e propostas de alteração, num processo colaborativo e participativo.
  • 29 de maio, o Conselho Pedagógico aprovou os “Princípios para a utilização da IA no Agrupamento de Escolas”, aqui apresentados.

Estes passaram a integrar o regulamento interno, consolidando assim uma política institucional que promove a utilização ética, crítica e pedagógica da Inteligência Artificial.

Desde então têm prosseguido as seguintes atividades:

  • A formação de docentes (em particular, workshops temáticos sobre: IA e avaliação pedagógicaferramentas de IA generativaquestões éticas associadas à utilização da IA; aplicações da IA em áreas curriculares específicas, como a matemática, as artes e outras disciplinas).

Estes momentos formativos reforçaram o compromisso da escola com uma abordagem transversal e crítica à integração da IA no ensino.

  • Atividades de literacia algorítmica para alunos, nomeadamente no âmbito do projeto europeu Algowatch: “Descodificando algoritmos: literacia dos media e da inteligência artificial para todos”.

Monitorização e avaliação:

A monitorização e a avaliação estão previstas para janeiro de 2026, mediante a utilização de instrumentos e métricas concebidos para esse efeito, recolhendo o feedback de professores, pais e alunos.

De acordo com os resultados, será feita a atualização ao documento “Princípios para a utilização da IA no Agrupamento de Escolas”.

Sobre o Autor

Carlos Pinheiro

Professor bibliotecário e coordenador interconcelhio da Rede de Bibliotecas Escolares

Áreas de interesse e especialização: literacia dos media, literacia digital e inteligência artificial na educação. Formação de professores.