Diana Pinto
3 de Maio, 2023
“Às vezes vamos procurar à internet aqueles assuntos em que não nos sentimos tão à vontade para falar com… Há certos assuntos mais pessoais que nem os amigos, nem os pais. Mesmo coisas assim, tipo, totalmente privadas em que não me sinto à vontade para falar com os amigos”. Estas palavras do Pedro (7º ano) apontam os meios digitais como recursos na busca de informação sensível sobre saúde na adolescência, embora os pais sejam a fonte mais referida sobre saúde. Resultados de um estudo com adolescentes que aponta também pistas para promover a literacia mediática sobre este tema.
Busca de informação de saúde junto dos pais
Este estudo, realizado com 901 adolescentes das regiões de Braga, Porto e Bragança, identificou que os pais são a principal e mais frequente fonte de informação sobre questões de saúde, em matérias como consumo de tabaco, nutrição, alimentação e peso saudável, bebidas alcoólicas, exercício e atividade física ou resolução de problemas relacionais.
Normalmente temos mais confiança neles [pais], e qualquer coisa que eles nos digam… não é que nós acreditemos logo, mas ficamos com uma ideia mais forte. (Guidão, 11º ano)
Eu acho que também os pais sabem o nosso histórico da saúde… Sabem as doenças que nós já tivemos, se é comum termos aqueles problemas em certa altura, o que devemos fazer. Como eles nos conhecem mais ou menos, já sabem como é que… quais são os problemas que costumamos ter… eu acho que é uma das razões que nos levam a procurar os pais. (Ana, 7º ano)
Estas citações ilustram algumas das razões que levam os adolescentes a considerarem os pais como principal fonte de informação em matéria de saúde: confiança; valorização do seu conhecimento, experiência e proximidade; por serem os seus cuidadores; por conseguirem identificar particularidades do pai ou da mãe e utilizá-las a seu favor; pela sua disponibilidade, em particular por parte da mãe.
Busca de informação na internet
A internet é o segundo recurso para obterem informação sobre saúde. Se a escolha pode decorrer das questões sensíveis para as quais os adolescentes procuram resposta, como vimos, para outros adolescentes a velocidade e a rapidez são a principal vantagem:
Eu acho que primeiro sou capaz de ir à internet… Porque é o meio mais prático, e não tenho de esperar porque aquilo é praticamente imediato. (Carlão, 11º ano)
Na internet, os jovens valorizam não só a facilidade do acesso (como a rapidez, praticidade, comodidade e a conveniência), mas também a confidencialidade e o anonimato que proporciona.
Para a esmagadora maioria dos adolescentes, os seus pais e a internet têm em comum a disponibilidade do acesso. Neste ponto, a internet fica mesmo à frente dos pais quanto à disponibilidade e diversidade: “existe muita informação e é muito fácil de aceder” (Olívia, 11º ano).
Mas enquanto a confiança nos pais se destaca como principal razão para os procurarem sobre estes temas, a procura de informação online não goza dessa característica. Embora a internet seja a segunda fonte onde os adolescentes procuram informação sobre temas de saúde, a informação das redes sociais é a que lhes suscita menos confiança.
Dominando a literacia mediática em saúde
Quando estão a procurar informação sobre temas de saúde nos media, os jovens podem estar a adquirir várias capacidades. Para além de identificarem conteúdos de saúde, sejam eles explícitos ou implícitos, podem reconhecer a influência dos media nos comportamentos de saúde, analisar criticamente conteúdos mediáticos sobre saúde e expressar uma intenção de resposta através de comportamento pessoal de saúde ou de ativismo, como apontam as investigadoras Levin-Zamir, Lemish, & Gofin (2011). Chama-se a este conjunto de capacidades a Literacia Mediática em Saúde (LMS).
Os resultados deste estudo com adolescentes portugueses mostraram que:
- A literacia mediática em saúde tende a ser superior nas raparigas e nos adolescentes com mais escolaridade – o que significa que os rapazes e os mais jovens merecem especial atenção na promoção destas competências.
- Para além dos pais, quanto mais os adolescentes obtiverem informação sobre saúde a partir de outras fontes interpessoais (como colegas, irmãos e profissionais de saúde) ou através dos media, maiores serão os seus níveis de literacia mediática em saúde.
- A literacia mediática em saúde tende a ser favorável à diminuição de comportamentos de risco: adolescentes com maiores níveis de literacia mediática em saúde apresentam menor tendência para consumir tabaco e para se envolverem em lutas ou em comportamentos agressivos.
Pistas para promover literacia mediática em saúde
Informação e jogos online – Documentos, sites e outros recursos claros e com linguagem adequada às idades dos jovens podem ajudá-los a obter informação sobre os assuntos do seu interesse (ex. nutrição, sexualidade, etc.). Jogos educativos podem constituir um suplemento divertido e permitir retorno sobre os conhecimentos adquiridos.
Na escola – Considerando as próprias perceções dos jovens, a informação nesta área deve ser clara, livre de tabus, preconceitos e estereótipos, embora não os ignorando. A formação deve ser sobretudo prática, incentivando a discussão de ideias de modo aberto e demonstrando uma atitude de aceitação e respeito pela individualidade e diversidade das ideias dos jovens – dar-lhes voz.
Referências
Levin-Zamir, D., Lemish, D., & Gofin, R. (2011). Media Health Literacy (MHL): development and measurement of the concept among adolescents. Health education research, 26(2), 323-335. https://doi.org/10.1093/her/cyr007
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Sobre a Autora
Com formação em Psicologia e em Ciências da Comunicação, tem investigado sobre literacia mediática em saúde.
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